Como Agrônoma atuando há 21 anos no segmento do Agronegócio, tenho acompanhado diversas etapas que o setor tem passado e entendo que o conceito do VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) se encaixa perfeitamente nele também.
Com as mudanças e adequações que a Pandemia causada pelo COVID19 tem exigido, o Agronegócio chegou a ser equiparado ao sistema de saúde, demonstrando toda a sua importância ao representar o Brasil que não para. A essencialidade deste setor, que segue em pleno funcionamento, deve segurar mais uma vez a economia nacional e, não obstante, requer que os profissionais que atuam na área estejam cada vez mais antenados e aptos a entender quais novos serviços, experiências ou produtos podem oferecer e a forma como isto deve ser feito.
A volatilidade envolve as peculiaridades de cada segmento do Agro, passando pelos produtos diferenciados, que estão sendo “gourmetizados” como cafés especiais e cortes premium de carnes, até a loucura que é a comercialização e a oscilação do mercado de commodities como arroz, feijão, soja, milho e algodão. Volatilidade e incerteza sempre fizeram parte do vocabulário do produtor rural que além dos fatores de mercado, dos relacionados à meteorologia, das condições da propriedade, tem o fator risco como o principal. Para fazer com que seu sucesso se concretize as variáveis que os desafiam no dia a dia consequentemente estimulam o profissional de marketing a estar cada vez mais sintonizado com tudo isto para entender e atender da melhor forma as necessidades deste segmento.
A complexidade envolvida nos processos produtivos mostra que o Agro precisa superar obstáculos como infraestrutura, logística e redes de distribuição. De qualquer forma, a tecnologia da informação também se tornou um caminho sem volta, pois já vivenciamos a chamada "Agricultura 4.0", baseada na produção digital com adoção de tecnologia de ponta, automatização de processos e análise de dados em larga escala, fatores que visam otimizar o uso de recursos naturais e aumentar a produtividade, além de melhorar toda a gestão da propriedade. A agricultura digital tem mostrado que consegue diminuir ao máximo os impactos ao meio ambiente, fato comprovado com o surgimento nos últimos anos de startup’s que trouxeram ferramentas que analisam a variabilidades de imagens coletadas por drones e satélites, comparam safras, acompanham o desenvolvimento da cultura e criam estratégias de aumento de rentabilidade e otimização do uso das terras. Isso tem gerado economia de tempo, mão de obra, além de recursos naturais e financeiros.
Não ficou longe do cenário atual a ambiguidade, onde empresas de eventos se adaptaram a fazê-los virtualmente, dias de campo que são fundamentais neste setor para que o Produtor Rural tenha acesso às novidades e lançamentos do mercado passaram a ser rotina do outro lado da tela, e para isto os profissionais de marketing tiveram que se adaptar à forma de divulgar e comunicar da melhor maneira possível os atributos de seus produtos e serviços. Notamos também a ambiguidade no segmento de proteína animal, onde por um lado temos frigoríficos preocupados com o aumento do consumo da proteína vegetal, e por outro lado alguns investindo em startup’s que trazem soluções para viabilizar a utilização da proteína vegetal, ampliando sua forma de atuar no mercado e de se comunicar com o consumidor.
Neste ambiente de marketing o desafio é como integrar todas estas tecnologias dentro e fora da cadeia produtiva, otimizando o melhoramento genético com a bioinformática, na pré-produção; agricultura de precisão e equipamentos diversos na gestão da produção; melhorias na logística e transporte na pós-produção.
Redes de relacionamento e cooperação não deixam de ter um papel fundamental na agricultura moderna e globalizada, já que além da ciência e da inovação, teremos algo disruptivo permitindo novos arranjos, tudo cada vez mais integrado, com novas formas de atuação das esferas pública e privada em um novo modelo de relacionamento.