Estamos tão habituados a interagir diariamente com as mídias sociais que por vezes o fazemos de forma mecânica - sendo o feed a primeira e última ação nos nossos dias. Ato executado de forma tão rotineira que o passar das horas encontra nova perspectiva.
Compreender e debater essa dinâmica das redes é assumir o controle (se é que isso é possível) não apenas de como utilizamos nosso tempo, mas do impacto que a alta demanda de informações recebidas tem em nossas vidas e como podemos utilizá-las a nosso favor.
Em um entendimento que extrapola o ambiente digital vivenciamos através da internet e avanço tecnológico a amplificação de conceitos básicos de relações sociais, como o dos laços - fortes, fracos e ausentes, sendo o "laço social uma conexão estabelecida entre atores sociais, que se formam através de interações" (Breiger).
A movimentação dos laços ocorre de forma híbrida: começou antes mesmo do boom das redes sociais virtuais (desde o início da humanidade) e atualmente, ambas as realidades são afetadas por tais características: onde quanto maior a intensidade emocional do vínculo, maior é a força do laço.
Alguns conceitos ampliam a compreensão dessa dinâmica, como é o caso da modernidade líquida - de relações sociais, econômicas e de produção frágeis e maleáveis e que atuam em modelo de conexão e desconexão, de relações que se formam e se distanciam conforme a necessidade do sujeito.
Nesse cenário, a internet propicia uma conexão de laços fracos de forma nunca antes vivenciada. Nos conectamos instantaneamente com desconhecidos através de um simples tweet e na mesma velocidade, nos distanciamos. E são esses laços fracos os maiores responsáveis pela disseminação de ideias para "fora de uma bolha", encontrando novos públicos e seguindo um ritmo orgânico de multiplicação.
Por estarem distantes, os laços fracos são capazes de levar a mensagem a outras pessoas, de outros círculos e por isso são os que têm maior peso na dinâmica das redes. Seja montando uma estratégia de marca ou mesmo analisando o comportamento social: os laços fracos são também um fértil terreno para fake news e ideias extremistas.
É um fracasso de laços fracos, porque eles acabam se fortalecendo. Por meio da tecnologia é mais fácil encontrar um grupo de pessoas que falam e pensam da mesma maneira. Sempre houve grupos extremistas. Mas agora é mais fácil para eles permanecerem unidos. É como se estivessem todos na mesma sala. (Granovetter).
Analisar tais mudanças pelo viés da culpabilização do avanço da tecnologia e do tempo e forma gastos no uso da internet e redes sociais virtuais é não enxergar uma realidade muito maior: o que se forma na verdade é o novo ser humano, conectado, híbrido e que precisa desenvolver habilidades para lidar com os novos formatos de interação social.
Habilidades que não estão "postas à mesa" e envolvem diferentes vieses como o da disparidade no acesso à tecnologia e letramento midiático. É o digital compreendido como multiplicação do potencial humano e os novos modelos de conexão como forma de desenvolver essa nova humanidade, mais livre, democrática e igualitária.
Imagem: Pexels