A internet mudou muito a forma como fazemos negócios, a forma como nos relacionamos com as pessoas. O imediatismo que a tecnologia nos proporciona no acesso à informação traz inúmeros benefícios em termos práticos, mas se não ficarmos atentos pode trazer prejuízo em termos de relacionamentos. Mas será que realmente mudamos, ou a tecnologia apenas amplifica o que já existe?
O fato é que se a internet realmente subverte hierarquias, independente da tecnologia utilizada, as pessoas realmente vão exigir mais demanda por parte de quem as está servindo, não importando se essa exigência é coerente ou não. Cabe a quem está sendo solicitado ter disciplina para atender as demandas e educar essas pessoas quanto a limites que também precisam ser respeitados. E ao mesmo tempo que as empresas entenderam que precisam ser mais participativas em seu papel na sociedade, que é importante ter um propósito naquilo que fazem, porque não educar os consumidores neste sentido também? A partir do momento em que, para criar o relacionamento com o consumidor, precisamos saber quais são seus pontos de dor e os objetivos que querem atingir, por que não trazer essa comunicação mostrando um pouco os comportamentos não saudáveis nestas interações on-line para conscientizar essas pessoas sobre um uso mais saudável das tecnologias?
Por exemplo, o “Fear of Missing Out”, que realmente está se tornando uma síndrome em termos de saúde mental, ou aqueles que têm a necessidade de relatar cada movimento do dia, não importa se aquilo é relevante ou não, e este comportamento é estimulado em todos os meios. Isso causa uma sensação de pertencimento? O quanto a pessoa realmente está ali presente no que está fazendo, criando memórias saudáveis e vivendo aquilo, corporalmente falando, e o quanto ela simplesmente está arquivando e registrando pelo smartphone, ou colocando na vitrine, sem realmente sentir a experiência? O que isso pode estar causando de modificações em nossos centros de memória e aprendizado? A tecnologia realmente ajuda a ampliar as formas de aprendizado. Sherlock Holmes adoraria ter um “HD externo”, como a internet, para não precisar sobrecarregar o cérebro com memórias ou informações “inúteis”, como ele dizia, mas o quanto estamos utilizando isso de forma produtiva? Estamos liberando espaço no nosso cérebro para quê?
É fantástico que em termos de cálculos, estatísticas e dados, realmente liberamos espaço para atividades mais da área de humanas, então, vamos ser humanos!Porque se “o digital não conserta marketing ruim, assim como não há estratégia de marketing que sobreviva a um produto ruim”, podemos dizer também que “o digital não conserta um ser humano ruim, assim como não há estratégia de marketing que sobreviva a um ser humano ruim”, ou seja, o que somos no “físico” simplesmente se amplifica no “virtual”, uma vez que o alcance é muitas vezes maior. E portanto, maior é nossa responsabilidade por aquilo que é veiculado, para não ficarmos cheios de tecnologia e vazios de sentido, como disse John Naisbitt. Um produto ruim até podemos consertar, mas em relação a ética e caráter temos que entrar em um nível muito mais profundo. Porque a parte técnica todos podem estudar, aprender e aplicar, alguns mais rapidamente, outros nem tão rápido assim, a informação está toda disponível para quem quiser buscar, mas entender onde entra a responsabilidade com o outro, em relação às influências exercemos com nossa postura e posicionamento diante de todo este mundo que se abre, isso é do caráter de cada um. Você pode diagnosticar qual a falha no produto e na estratégia e consertar. E quem será capaz de diagnosticar e consertar o humano por trás disso?