O ser humano, como indivíduo, transita por acontecimentos de todas as naturezas que podem ou não resultar em aprendizado. Se estes acontecimentos são objetos de reflexão e são relacionados a padrões gerais e sintetizados, ele passa a ser uma experiência. As pessoas acumulam experiências, ao longo da vida, que vão alicerçar seu crescimento pessoal e profissional. Sua carreira é sinônimo de reinventar-se ao longo da jornada.
As experiências, por sua vez, dependem da relação desse individuo com as organizações e com o mundo, e, por isso, é preciso saber fazer uma leitura do ambiente em que está inserido.
Para ler o ambiente organizacional, é preciso entender o conceito de organização. Hall [2004] explica que uma organização é uma coletividade com fronteiras identificáveis, com ordem normativas [regras], níveis de autoridade [hierarquia], sistemas de comunicação e de coordenação dos membros [procedimentos]. Esse coletivo está inserido em um ambiente e toma parte de atividades que se encontram relacionadas à metas e que geram consequências para os membros, para a organização e para a sociedade.
Organizações possuem papéis e responsabilidades perante a sociedade, seja a de geração de valor econômico; a de equilíbrio entre os stakeholders [representações de classe, ambiente legal e regulatório] e a social [ONGs, instituições da sociedade civil, entidades políticas].
Possuem, da mesma forma, funções administrativas inerentes à própria organização, ou um conjunto de atividades especializadas para atingir seus fins. Entre elas estão a função de produção, operação, comercial [que responde também pelo marketing], financeira, contabilidade, recursos humanos, segurança e administrativa.
Pode-se concluir, então, que uma empresa é um tipo de organização que gera lucro. A empresa é constituída por processos, autoridade, poder e indivíduos alocando e transformando recursos em oferta de valor para a sociedade através de bens e serviços que irão remunerar os proprietários por meio do lucro. Ou seja, uma empresa não tem um objetivo, ela é um meio para atingir objetivos dos proprietários.
É imprescindível que uma empresa tenha como guia a necessidade de gerar performance hoje, lidando com incertezas para construir o futuro e garantir o amanhã.
O mundo de hoje incorpora não só inteligência artificial, mas novas habilidades sociais, mudando imperativamente a maneira como os seres humanos interagem com o mundo, com as organizações e, consequentemente, com a cultura na qual está inserido. Não só os indivíduos, mas as organizações precisam ter uma postura de “life long learning” onde aprender constantemente novos skills, técnicas e competências é imprescindível para sobreviver no ambiente competitivo.
Se o individuo é impactado por essa realidade, ele impacta a organização. Esta, por sua vez, por não ser um sistema fechado, vai sempre ser impactada e impactar este ambiente externo. A empresa precisa ler essa realidade e entender como trazer essa realidade macro [tendências tecnológicas, socioeconômicas, culturais, ambientais, legais, etc.] para seu ambiente interno, entendendo como essas mudanças afetam o setor em que atua e quais as possíveis estabilidades ou instabilidades que trazem para seu cenário. É preciso entender o ambiente de competição no qual está inserido e ser capaz de gerenciar mudanças externas gerando novos cenários internos.
Em termos de Estratégia, a empresa precisa decidir como vai se posicionar neste ambiente, mas antes, precisa não só o entender, mas, entender quais os novos problemas que surgem deste novo cenário ou quais as novas formas de resolução que podem ser desenvolvidas para estes problemas. Ela deve ter mecanismos para desenhar sua estratégia de posicionamento e oferta de valor [seja de liderança em custos ou diferenciação] que dialoguem com as novas maneiras de consumir e de se relacionar, para conquistar uma posição exclusiva com um mix único de valores e ter um desempenho, crescimento e lucratividade acima da média de seu setor de maneira sustentável. Seja qual for a escolha, é analisada a perspectiva de criação e captura de valor para o cliente [percepção relativa do individuo], validando o preço no cenário econômico.
Estas decisões irão impactar a Estrutura da empresa em seus níveis institucionais, intermediários e operacionais e precisarão estar refletidas nos planos táticos, no planejamento operacional e na execução das operações.
A [re]definição da estratégia da empresa, pode alterar também o modelo de negócio. Os parceiros, os recursos e as atividades podem mudar [novas ferramentas, atividades substituídas por máquinas e novos skills analíticos necessários], os canais de distribuição e de relacionamento podem ser alterados ou extintos [deixar de oferecer algo físico para oferecer virtualmente, por exemplo] e também a estrutura de receitas, seja na forma de precificação diferenciada [como o discurso de oferecer algo com inteligência artificial] ou de modelo de contratação e formas de pagamento, por exemplo.
Os impactos da quarta revolução industrial na cultura são imediatos e influenciam e se relacionam com a cultura da empresa. As pessoas começam a entender e vivenciar a inteligência artificial no seu dia a dia, seja através de um chatbot ou um algoritmo do netflix e do spotify, impactando na maneira como se relacionam com o mundo. Segundo Edgar Schein [2003] estes novos valores ou pressupostos básicos fomentam a cultura e permitem adaptação ao ambiente macro e coesão interna para funcionar.
Um profissional dentro de tal contexto precisa entender que conhecimentos adquiridos podem se tornar obsoletos e incompletos e, portanto, é preciso estar sempre estudando. OCDE [2019] define competências que este profissional precisa desenvolver: técnicas [conhecimentos e habilidades para demandas especificas], sociais e emocionais [senso de consciência, responsabilidade, empatia, colaboração e autorregulação], meta-cognitivas e cognitivas transversais [pensamento critico, solução de problemas complexos, pensamento criativo e aprender a aprender] e fundamentais [letramento digital, por exemplo].
Uma empresa dentro de tal contexto deve ser capaz de avaliar como a sociedade em que está inserida se comporta em suas dimensões culturais e decidir como pretende se comportar em concordância com elas, seja no posicionamento diante das incertezas de novos cenários, na escolha entre numa visão de curto ou longo prazo ou no desenho de suas estruturas de poder.
Nenhum aspecto organizacional, seja estrutura, estratégia, modelo ou cultura são sistemas fechados e independentes. Todos os níveis se relacionam, se influenciam e estão no mesmo contexto de transformações e mudanças. Num cenário de revolução como o que estamos vivendo, torna-se imprescindível estar olhando constantemente para a sociedade e para o mundo, analisando, avaliando e criando mecanismos para responder a essas transformações através da organização e continuar gerando lucro ao permitir que pessoas transformem recursos em ofertas de valor relevantes para os indivíduos e para a sociedade.
………..
DRUCKER, Peter. In: Seja Seu Próprio Gerente. HSM Management, São Paulo, v. 3, n. 16, 1999.
HALL, Richard. Organizações — Estruturas, Processos e Resultados. Editora Pearson, 2004.
SCHEIN, E. et al. Competing Values Leadership: Creating Value in Organizations. 1 a Ed. London: MPG Books, 2003.
TALLER, Eric in Friedman, Thomas L. Thank you for being late: An optimist’s guide to thriving in the age of accelerations. Farrar, Strauss and Giroux, p.44, 2016.
WORLD ECONOMIC FORUM. Towards a reskilling revolution, 2019. Disponível em: <http://www.weforum.org http://www.scarfsolutions.com/SelfAssessment.aspx