A netnografia é a parte da Etnografia que nos permite extrair, por meio de estudos, padrões de comportamento, princípios de tomada de decisão e código de valores que não seriam evidenciados por meio de outras técnicas de pesquisa. Enquanto na etnografia a pesquisa é in loco, vivenciando a realidade do objeto de estudo, a netnografia utiliza o ambiente digital para seu campo de pesquisa.
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É preciso ressaltar que a netnografia não consiste apenas em colher informações. Elas precisam ser decodificadas, não pela maneira que eu interpreto o mundo, minha ótica, minha visão, pois eu tenho a minha própria cultura, códigos e regras que talvez não me permitam enxergar sob a ótica do pesquisado. É necessário abstrair-me, esvaziar-me do preconceito gerado por todo conhecimento que adquiri em minha vida, é preciso dar um reset para que eu consiga fazer uma interpretação ou julgamento dos fatos da forma mais isenta possível.
Eu ousaria dizer, baseado na explicação da antropóloga empresarial Valéria Brandini, que a netnografia pressupõe um exercício profundo de empatia, aliás, vai além disso, um estágio a mais, não bastando apenas me imaginar no lugar do outro, eu preciso experenciar a vida dele, a rotina, a maneira como se comporta, como toma decisões, como vive e assim por diante.
O mundo digital tem suas comunidades, suas tribos, que se movimentam de forma orgânica com seus próprios valores, dialetos, padrões, comportamentos e esse espaço de socialização, de fala, de comunicação, acontece por meio de publicações, interações, comentários, curtidas e compartilhamentos. É um conjunto de pessoas com um propósito em comum, algo que os unam em torno de uma ideia, ideal ou movimento.
Um efeito negativo no meu ponto de vista é que hoje as pessoas estão se fechando em suas bolhas e sendo incapazes de ouvir o contraponto, o contraditório, aquele que pensa diferente. Ao mesmo tempo que o universo digital permitiu uma abertura jamais vista na História da humanidade para um debate salutar, constante e enriquecedor, por outro lado, criaram-se barreiras praticamente intransponíveis que queimam todas as pontes.
Seria muito interessante que nas mais diversas áreas do conhecimento humano: sociologia, política, antropologia, filosofia etc. houvesse trabalhos de netnografia para que pudéssemos estabelecer um diálogo com aqueles que não partilham das mesmas opiniões, pois estamos divididos como sociedade, cada parte numa margem do rio, com as pontes queimadas e sem barcos para travessia. Devemos tomar consciência que do outro lado existem soluções das quais necessitamos e vice-versa.